Prefeitura de Belém vai da palavra à ação e inicia desmonte do Palacete Pinho e anexo

Por "sugestão" do colunista Mauro Bonna, ligado ao Grupo RBA, prefeito de Belém, Igor Normando, "comete" o que os especialistas consideram "um atentado à cultura".

20/03/2025, 12:00

Palacete Pinho, que abriga a Casa Bruno de Menezes, começa a ser desmontado pela prefeitura de Igor Normando: sugestão dada e acatada/Fotos: Divulgação.


E


rrou redondamente quem acreditou que o prefeito Igor Normando, do MDB, se faria de bonzinho com o apresentador e dublê de colunista de generalidades do Grupo RBA, Mauro Bonna. No último Dia de Natal, Bonna sugeriu - em entrevista - ao prefeito que o Palacete Pinho, inaugurado havia menos de ano depois de cuidadosa reforma, “estava subutilizado”. 

O colunista levantou a bola, deu mais umas duas notas dias depois insistindo na tal subutilização e o que se sabe é que, agora, o Palacete Pinho e o anexo onde estava instalada a Casa Bruno de Menezes começaram a ser desmontados.

Conteudo relacionado
Cultura sob ataque em Belém: Igor Normando admite entregar Palacete à iniciativa privada

Literatura pisoteada

O poeta e professor Paulo Nunes, um dos maiores estudiosos da obra de Bruno de Menezes, sugeriu em seu perfil no Instagram, ao comentar o desmonte da Casa Bruno de Menezes, que a administração Igor Normando mais uma vez “desrespeita a literatura paraense”. Em resposta à poetisa Roberta Tavares sobre se o acervo havia sido retirado, Bruno foi mais incisivo: “Sim, um desmonte total” - e emendou: “A Semec, responsável pelo acervo, atualmente é comandada por Patrick Trajan, que era o braço direito do titular da Seduc. Os dois foram ‘importados’ de São Paulo e trouxeram modelos de fora para determinar nossos destinos, mas eles não têm absolutamente nada a ver com a nossa realidade”. 

“Parece que a atual gestão da Prefeitura de Belém quer ‘matar o poeta’, quer excluí-lo do mapa da cidade, seja por um projeto deliberado e consciente, seja por ignorância e desconhecimento de quem é Bruno de Menezes, e que qualquer gestão, com o mínimo de sensatez, deveria querer ostentar com orgulho”’, prossegue. 

Complexo cultural 

A Prefeitura de Belém lançou em 28 de agosto de 2024 o projeto Casa Bruno de Menezes do Modernismo Paraense, no Cine Dira Paes, que fica dentro do Palacete Pinho. O evento contou com a presença de familiares desse grande literato-etnógrafo, romancista, jornalista, poeta, folclorista, dramaturgo, pesquisador e militante político, autor de “Batuque” e “Boi Bumbá”, entre outras obras, e protagonista do grupo que criou a revista Belém Nova. 

Arte e educação

Antes do desmonte, a Casa Bruno de Menezes abrigava um projeto de arte-educação e salvaguarda da memória do modernismo paraense, espaço vivo e dinâmico ligado à Secretaria de Educação de Belém e por meio do Núcleo de Arte, Cultura e Educação.  Por sugestão de Marília Menezes, poetisa e jornalista, filha de Bruno, acatada pelo ex-prefeito Edmilson Rodrigues, a Casa era anexa ao Palacete Pinho, a antiga residência da artista plástica paraense Dina Oliveira, repassada à prefeitura. 

Ameaça concretizada

Na entrevista no Dia do Natal do ano passado, Mauro Bonna sugeriu que o Palacete Pinho fosse entregue à iniciativa privada, ao que Igor Normando respondeu, incontinenti: “Nós vamos fazer isso, Mauro”. E Igor está cumprindo a promessa, sem falar com ninguém, às escondidas. No Palacete Pinho funciona desde fevereiro de 2024 o Núcleo de Arte, Cultura e Educação da Semec e a Escola Municipal de Artes de Belém, o Emab. A eles estão ligados o Cine Dira Paes e a Casa Bruno de Menezes.  O desmonte é irreversível.  Já foram retirados também do Núcleo o boneco gigante do educador Paulo Freire e outro retratando a entidade “Matinta”, criados pelo Mestre Cuité da Marambaia.

Os instrumentos musicais que eram utilizados nas aulas de música da Emab, comprados depois de três anos de uma exaustiva licitação, foram transferidos para o Liceu do Paracuri, em Icoaraci, local considerado inadequado para tal.

Prefeitura responde

A Secretaria de Educação informou que o acervo cedido pela família do escritor Bruno de Menezes continua devidamente armazenado onde estava. “Embora anunciada em 2024, o espaço ainda não apresenta condições para a concretização do projeto e, no início de 2025, os itens do acervo ainda estavam em fase de catalogação. Portanto, não se encontravam expostos à visitação pública. A prefeitura estuda alternativas para garantir a devida valorização desse patrimônio”. 

Sobre o Palacete Pinho, diz que as condições estruturais atuais do palacete e da casa anexa comprometem a realização de atividades pedagógicas com qualidade e segurança. “A entrega da restauração do palacete pela gestão passada não abrangeu a totalidade do prédio”. “Estão prontos apenas duas pequenas brinquedotecas - sem janelas -, o salão principal, o cinema e áreas externas e administrativas; salas de aula não podem ser usados”.  

“As atividades pedagógicas dispunham de poucos espaços adequados para se desenvolver, como as atividades de dança, que ainda carecem de estrutura como piso seguro e espelhos”. Os mais de 450 instrumentos musicais entregues à Semec em agosto de 2024 foram levados este mês para a Escola Liceu Mestre Raimundo Cardoso, em Icoaraci. Alguns deles, como violoncelos, nunca foram usados. Essa unidade dispõe de oito salas para atividades artísticas, incluindo musicais, e outras sete, recém-construídas, aumentando o potencial de atendimento do espaço”.  

“As esculturas do educador Paulo Freire e da entidade “Matinta” foram temporariamente emprestadas ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo na Amazônia, da UFPA, que os recebeu para uso pedagógico em suas atividades”. 

Papo Reto

·O edital para escolha da lista sêxtupla de candidatos ao desembargo pelo quinto constitucional da OAB saiu ontem - e não é bem de agrado geral.

·Começa que, conforme a coluna antecipou, tira de rota os candidatos, por assim dizer, menos favorecidos financeiramente.

·Quanto à exigência de apresentação de “termo de compromisso de moralidade”, aquele que atesta candidatos de “conduta ilibada”, causou surpresa.

·Não exatamente pela exigência em si, mas porque não teria sido exigida na escolha dos candidatos ao Conselho Federal, na eleição passada.

·Outra coisa: a resolução do quinto constitucional veda as campanhas milionárias pré-eleitorais, que já estão nas ruas, como André Bassalo (foto). É a OAB do jeito que ela está.

·O Basa fechou sua principal agência em Belém, a Belém-Centro, que funcionava há 52 anos no térreo do edifício sede.

·E sem nenhuma explicação plausível, o que está causando aborrecimento a funcionários da ativa, aposentados, aposentados, pensionistas do INSS e clientes.

·Pior: sem nenhum pio ou manifestação do Sindicato dos Bancários ou da Associação dos Funcionários, ambos vinculados ao PT e Psol.

·A Henvil Transportes informa que na terça-feira e quarta-feira, 18 e 19, participou de reuniões com dirigentes da Atransmar para tratar da negociação sobre a tarifa de travessia ferry-boat para o Marajó

·A reunião teve mediação da promotoria de Justiça de Salvaterra. O acordo prevê o escalonamento da aplicação do reajuste em duas parcelas.

·Serão 11%, em caráter imediato e o restante, a ser aplicado a partir de 10 de junho. Não houve reajuste para passageiros da classe econômica.

Mais matérias OLAVO DUTRA